Verluci tinha apenas cinco anos e adorava sua boneca
de papel�o, tipo papel-march�, destas que n�o
se fabricam mais. Cabelos, ela n�o tinha n�o.
Sua M�e fez para ela um vestido de organdi
azul-celeste todo enfeitado com rendinhas brancas.
De todas as bonecas, "Carol" - como ela a chamava -
era a sua preferida e a mais querida.
Numa tarde primaveril, eis que o c�u t�o azul,
de repente escurece com pesadas nuvens que
se formaram num instante, assustando e
fazendo voar os alegres passarinhos.
Verluci que estava brincando com Carol no quintal,
debaixo de uma laranjeira florida, � chamada pelo
pai para entrar rapidamente. Pingos fortes de chuva
caem sobre ela, que ao correr com seus brinquedos,
deixa Carol sentadinha numa cadeirinha de balan�o.
A chuva desaba como uma tempestade que n�o foi
anunciada. A m�e logo trata de enxugar Verluci que
havia se molhado um pouco. Liga a TV e diz para sua
filha assistir "A Turma dos Sete", (na extinta TV TUPI).
De repente ela sente falta de algo!! Carol, minha
Carol!! E corre para ir busc�-la. Mas, seu pai havia
trancado a porta por causa do vento e da chuva.
O vento uivava entrando pelas frestas das janelas.
Verluci sobe numa cadeira e espia l� fora, atrav�s
do alto vitr� da cozinha.
E ela v�... uma cena que permaneceu para sempre
em sua mem�ria! Cena, que ela v� at� hoje e seu
cora��o chora... as l�grimas salgadas deslizam pelo
seu rosto, como a chuva desliza pela vidra�a.
Carol, com seu rostinho pintado no papel�o duro,
as cores, a tinta se esparramando, escorrendo, pela
forte chuva que seu rostinho castigava, manchando
o lindo vestido de organdi azul-celeste e a carinha
t�o querida de Carol vai desfazendo-se... desman-
chando-se, como muito de nossos sonhos se
desfazem... Carol... Carol... e Verluci chora!
O Pai para consol�-la, ao ver sua tristeza, semanas
depois, vai � �nica loja de artigos infantis e compra
para ela uma maravilhosa, imensa boneca da Estrela
que se chamava "Amiguinha", com espetacular vestido
e um sapatinho preto de verniz que quase servia para
Verluci, t�o grande era a boneca.
Ela agradeceu mas demorou um longo tempo para
come�ar a gostar desta sua nova amiguinha. Deu-lhe
o nome de "Ana Carolina". Inconscientemente
talvez em homenagem � sua t�o amada Carol.
E hoje, quando chove, ela olha pela janela,
nas laranjeiras onde cantam alegres os sabi�s...
ela a v� nit�damente... a tinta a escorrer pelo rostinho
t�o amado, manchando seu lindo vestido de organdi
azul-celeste, todo enfeitado com rendinhas brancas!
�Verluci Almeida
12-10-2006
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