...Os jovens e os adultos pouco sabem sobre o sentido da simplicidade.
Os jovens s�o aves que voam pela manh�: seus v�os s�o flechas em todas as dire��es. Seus olhos est�o fascinados por 10.000 coisas. Querem todas, mas nenhuma lhes d� descanso. Est�o sempre prontos a de novo voar. Seu mundo � o mundo da multiplicidade. Eles a amam porque, nas suas cabe�as, a multiplicidade � um espa�o de liberdade.
Com os adultos acontece o contr�rio. Para eles a multiplicidade � um feiti�o que os aprisionou, uma arapuca na qual ca�ram. Eles a odeiam, mas n�o sabem como se libertar. Se, para os jovens, a multiplicidade tem o nome de liberdade, para os adultos a multiplicidade tem o nome de dever. Os adultos s�o p�ssaros presos nas gaiolas do dever. A cada manh� 10.000 coisas os aguardam com as suas ordens (para isso existem as agendas, lugar onde as 10.000 coisas escrevem as suas ordens!). Se n�o forem obedecidas haver� puni��es...
No crep�sculo, quando a noite se aproxima, o v�o dos p�ssaros fica diferente. Em nada se parece com o seu v�o pela manh�. J� observaram o v�o das pombas ao fim do dia? Elas voam numa �nica dire��o. Voltam para casa, ninho. As aves, ao crep�sculo, s�o simples. Simplicidade � isso: quando o cora��o busca uma coisa s�...
Rubem Alves
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