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楊煉 楊煉 于堅 西韓東歐陽江河王家新伊沙 楊煉 ♬ ★
O que vale na vida n�o � o ponto de partida
e sim a caminhada.

Caminhando e semeando, no fim ter�s o que colher.
� Cora Coralina






PARTE II

楊煉

UM BARCO REMENDA O MAR
DEZ POETAS CHINESES CONTEMPOR�NEOS

楊煉

� SOMBRA DA REALIDADE
Yao Feng

Depois da implanta��o da Rep�blica Popular da China em 1949, a poesia � como outras modalidades liter�rias � chegou, talvez, a ficar prejudicada durante prolongado per�odo, especialmente durante a Grande Revolu��o Cultural, que foi de 1966 a 1976. A poesia, privada da liberdade de express�o, passou a ser um instrumento da m�quina pol�tica, ao passo que os poetas se limitavam a pintar a m�scara da realidade com palavras falsas, conforme o mecanismo b�sico predominado pelos chamados realismo e romantismo revolucion�rios, que puseram completamente em causa os princ�pios est�ticos da po�tica. Os poetas tinham de fechar a porta a seu mundo subjetivo e sentimental, sem possibilidades de alcan�ar a singularidade expressiva.

Ao fim da Grande Revolu��o Cultural, movimento mais de natureza pol�tica e que trouxe consequ�ncias desastrosas para a China em todos os aspectos, um grupo de jovens poetas criou Hoje [今天], uma revista ilegal que circulavava clandestinamente e provocou um eco significativo na poesia chinesa. Designado Hoje e reunindo nomes como Mang Ke [芒克], Bei Dao [北島], Yang Lian [楊煉], Jiang He [江河], Duo Duo [多多] etc., o grupo desafiava o mecanismo determinado pela ideologia ortodoxa, pretendendo recuperar a aventura orientada pelos poetas das d�cadas de 1920 e 1930, revelando a profunda consci�ncia de instalar uma expressividade distinta e inovadora, alimentada pela tradi��o da poesia ocidental. Nesse enquadramento est�tico, e com a coragem de intervir socialmente, sua poesia tornou-se uma novidade que acordou o leitor, mas, por outro lado, foi alvo de cr�ticas dos conservadores por ser incompreens�vel, uma vez que as imagens e met�foras permitiam mais de uma interpreta��o ou refer�ncia. Na realidade, a m�ltipla sugest�o e o indetermin�vel constituem um h�bito hermen�utico do leitor, uma parte integral e indispens�vel da po�tica. Contudo, para aqueles que se habituaram � �nica e direta manifesta��o liter�ria, a poesia desse tipo � considerada demasiado menlong [朦朧], termo que significa m�stico, amb�guo ou obscuro. No entanto, esse incidente n�o se desenvolveu meramente no n�vel est�tico, mas tamb�m foi impregnado desde o in�cio pelo esp�rito rebelde contra a viol�ncia e a opress�o do poder pol�tico em rela��o ao homem. Um pouco de hero�smo individual, a reflex�o hist�rica, a cr�tica ou ironia da realidade � bem como a preocupa��o com o destino do pa�s � marcaram as tem�ticas desses poetas, cujos nomes constituem refer�ncias determinantes para a poesia contempor�nea chinesa, n�o s� pela tentativa de introdu��o das novas tend�ncias po�ticas como tamb�m pela ousadia de assumir o papel de interventores na fase de mudan�as sociais.

O ano de 1989 foi um ponto decisivo para o grupo Hoje, cuja maioria dos membros foi obrigada a abandonar o pa�s devido �s graves circunst�ncias sociais, fato que anunciou o fim desse movimento po�tico. Longe da p�tria, apesar de muitos deles continuarem a escrever em l�ngua materna, j� deixaram de ecoar como antes no horizonte desta terra, onde se erguiam novas vozes. Com efeito, � justific�vel mencionar Hai Zi [海子], o �menino do mar�, que se esfor�ou por legitimar a poesia num reino mais sagrado e mais sublimado, por meio de um lirismo firme e genu�no, de um processo de cristaliza��o n�o s� da linguagem como do sangue. Deixou uma heran�a admir�vel aos poetas posteriores depois de se suicidar aos 33 anos, com o intuito de se livrar do conflito entre o sonho inating�vel e a realidade desgra�ada. Paralelamente, existem outros autores, como Yu Jian [于堅], Xi Chuan [西川], Han Dong [韓東], Ouyang Jianghe [歐陽江河], Wang Jiaxin [王家新], Yi Sha [伊沙], que procuram, cada um a seu modo, a express�o singular, de maneira a tra�ar um mapa diversificado da poesia. Houve entre eles discuss�es acesas sobre uma s�rie de quest�es relacionadas � po�tica � por exemplo, a escrita intelectual, a escrita em linguagem coloquial, a assimila��o da poesia estrangeira etc.

A partir dos anos 1980, a China vem conhecendo mudan�as dram�ticas que conduzem uma sociedade fechada e altamente politizada a um mundo mais aberto. Por um lado, as pessoas gozam de mais liberdades na express�o de seu gosto, sentimento, tend�ncia ou imagina��o; por outro, o sistema de mercado, a perda da cren�a, o comando do materialismo levam-nas a se afastar cada vez mais da poesia. Se a poesia menlong explodiu, em sua �poca, como uma for�a espiritual, ditando a voz sufocada do povo, deve-se reconhecer que, desde os anos 1990, os poetas j� deixaram de desempenhar o mesmo papel na vida social. No entanto, a poesia n�o morreu nem vai morrer. Os poetas continuam a brotar como bambus da terra, porque ainda lhes cabe a tarefa da fus�o e do espelhamento dos mundos exterior e interior pela acumula��o verbal.

Por um lado, os poetas chineses s�o c�mplices de outros poetas do mundo, veiculando igualmente o visto e o sentido por meio da explora��o de s�labas apagadas e, por outro, s�o homens profundamente integrados � sociedade, onde raramente conseguem fugir � sombra da realidade. Da� � natural compreender que a poesia contempor�nea chinesa n�o suporta a leveza de uma proposta meramente est�tica, carregando quase sempre, por�m, o interesse ou a tend�ncia ora moral, ora pol�tica.

No entanto, n�o se deve delimitar uma fronteira distinta entre um poeta brasileiro e um poeta chin�s, visto que todos os poetas acabam por falar do mesmo mundo dentro dos mundos. Tal como os fragmentos aqui reunidos tamb�m poder�o compor um pequeno mosaico da alma humana por meio de um olhar distante.

7-8 de abril de 2007

� Copyright � R�gis Bonvicino 楊煉

★DEUS � SUPERIOR A TUDO e a TODOS★





















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