A poesia chega sem hora marcada. Antes de ser escrita no papel em branco, j� foi lida milhares de vezes por nossa alma em sil�ncio. Mesmo assim, todos sabem que ela grita. Fala mais alto que a m�sica na r�dio e canta o que nossos ouvidos escutam pelos olhos. Anatomia n�o funciona na poesia, assim como as defini��es. Poesia � o que n�o �, escrito no que um dia ser�. Toma forma no momento em que sentimos as borboletas do est�mago voando ao nosso redor, as asas da imagina��o em nossas costas e a primavera florescer de dedos espinhosos. Poesia � ver a linha do horizonte como o que estende o infinito, n�o o que o limita. � viver tecendo a teia das palavras, com cada estrofe montando uma fortaleza quase invis�vel a olho nu. Se despir das hipocrisias, abra�ar o sil�ncio do cosmo e multiplicar os quatros ventos por mil. N�o somente p�, mas tamb�m corpo e cora��o da letra. Com todas as aquarelas, sorrisos e gosto de uma inf�ncia eterna. Poesia � a m�gica que, em um passe de entrelinhas, torna o monocrom�tico em mil colora��es e a lucidez em loucura. O mapa-m�ndi que n�o define latitude ou escala, e ainda assim sabe exatamente nossa localiza��o. E onde estamos? Poesia � interroga��o e tamb�m a resposta. � o que tira os pre�os das nossas certezas, e nos deixa sem d�vidas ou d�vidas. O poeta � somente um ponto no universo e ainda assim sabe carregar em cada ponto final de seus poemas um mundo inteirinho. Poesia � ter sempre um peda�o de nuvem guardado na �ltima folha do caderno e fazer, por acaso, o infinito em cada par�grafo.