Sim, amor também é trabalho, também dá trabalho.
Mas tem de ser um trabalho que você faz porque quer, porque deseja, porque vê ali algum sentido.
A cada transformação de energia em abraço, em passos, em lembrança, há trabalho.
Para se colocar em movimento, para ir até alguém, para voltar, para permanecer, há sempre algum trabalho.
Uma parte considerável do que fazemos em nossas vidas vem de necessidades, de demandas não voluntárias e espontâneas.
Mas pelo menos algumas, pelo menos de vez em quando, é importante que a gente faça algo por gosto.
Trabalho saudável de modo que circule e que não parasitário.
E que, quando não for o caso, possamos ter o direito de não mais fazê-lo, sem tanta culpa, sem tanto medo.
Nem sempre temos tanta escolha nisso, mas às vezes sim, ainda que parcial, além disso, como diz Quintana:
“Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!”
Há momentos em que a necessidade se encontra com o desejo e já não sabemos se o beija-flor se alimenta do néctar só porque precisa ou também porque gosta de beijar as flores, de sentir sua beleza e doçura.
O amor, quando leve e fluido, não deixa de ser trabalho, mas é um que a gente quer ter.
Geni Núñez