É necessário romantizar a própria existência. Se enxergar como o protagonista da própria história. Entre um episódio e outro, quando o hipotético telespectador tiver aquele tempo sabe? De ir pegar um copo d’água, ir ao banheiro, tudo bem. Vá ver o que está acontecendo na história dos que estão ao seu lado e faça bem seu papel de coadjuvante. Se encarregue de ser a melhor amiga que organiza tudo quando a sua for casar, seja a acompanhante quando seu pai estiver doente, saiba ser a segunda voz.
Mas não permaneça tempo demais como quem se perde do caminho de volta. O caminho pra sua própria história, onde a vida é vista pelo seu ponto.
Compre flores na volta pra casa, e saiba dar ênfase aos começos. Olho no olho, não deixe a vida que pulsa passar batido, não. Diga o que sente enquanto sente. Porque se você estiver fazendo certo, alguma hora o sentimento pode mudar. Dê seu jogo de cena também nos adeuses necessários: Bata o pé e a porta, diga as palavras com fervor, como quem as quer dizer, esse é o momento. Se endireite e fique do tamanho que você é, como diria Bethânia a Letrux. Acenda um incenso, sinta a gota do chuveiro sob a pele, peça a Alexa que toque no volume máximo. Dance, e se te acharem louca, se ache também. Nem nunca se compadeça de quem é normal: Somos todos e somos nada. Se ache sexy com um coque e um blusão rasgado, comendo uma comida no sofá. Se emocione ao olhar pela janela do avião. Quem estiver por perto que veja. Quem estiver olhando, deixe olhar. Daqui a pouco é o próximo ato. Saiba muito bem sua hora de entrar.
Ana Clara Paim