Embora pareça, nada é por acaso, nós somos a junção de várias pessoas que um dia se amaram. Já parou pra pensar nisso? Querendo ou não a gente existe, por conta da força de quem acreditou no amor um dia a ponto de deixá-lo correr no sangue. Cada traço do nosso rosto é testemunha, o sorriso em boca pequena, o jeito como a testa franze, a profundidade de um olho puxado, os sinais nas costas, as unhas longas, as entradinhas no cabelo, tudo absolutamente tudo carrega traços de centenas de gerações. Carregamos em nós beijos que já foram dados, promessas que já foram feitas, amores que nasceram no fim de uma tarde de um domingo qualquer. Alguém um dia sonhou com a nossa chegada, alguém um dia desejou nos ter nos braços, e aà eu fico pensando que um dia assim como tantos antes de mim, também serei parte dessa corrente infinita. Meus traços, minhas manias e minhas histórias atravessarão o tempo e se encontrarão em outros corpos. Eu serei lembrada em um sorriso alto e na forma como eu pisco o olhar lentamente enquanto eu te olho, em um gesto despretensioso que carrega minha marca. Um dia, se Deus quiser, eu serei memória viva na pele de quem ainda nem chegou. Um dia, por exemplo, eu serei talvez a Avó de alguém, e esse alguém vai carregar no sangue, não apenas a minha existência, mas todos os amores que me fizeram possÃvel, porque no fim, a herança mais profunda que deixamos não está no sangue, mas na capacidade de fazer o amor continuar.
— .(Escrito dia 06/09/2025, às 20:32).