POMBO-CORREIO
� Carlos Drummond de Andrade
Os garotos da Rua Noel Rosa
onde um talo de samba vi�a no cal�amento,
viram o pombo-correio cansado
confuso
aproximar-se em v�o baixo.
T�o baixo voava: mais raso
que os sonhos municipais de cada um.
Seria o Ex�rcito em manobras
ou simplesmente
trazia recados de ai! amor
� namorada do tenente em Aldeia Campista?
E voando e baixando entran�ou-se
entre folhas e galhos de f�cus:
era um papagaio de papel,
estrelinha presa, suspiro
metade ainda no peito, outra metade
no ar.
Antes que o ferissem,
pois o carinho dos pequenos ainda � mais desastrado
que o dos homens
e o dos homens costuma ser mortal
uma senhora o salva
tomando-o no ber�o das m�os
e brandamente alisa-lhe
a medrosa plumagem azulcinza
cinza de fundos neutros de Mondrian
azul de abril pensando maio.
3235-58-Brasil
dizia o anel na perninha direita.
Mensagem n�o havia nenhuma
ou a perdera o mensageiro
como se perdem os maiores segredos de Estado
que gra�as a isto se tornam inviol�veis,
ou o grito de paix�o abafado
pela buzina dos �nibus.
Como o correio (�s vezes) esquece cartas
teria o pombo esquecido
a raz�o de seu v�o?
Ou sua raz�o seria apenas voar
baixinho sem mensagem como a gente
vai todos os dias � cidade
e somente algum minuto em cada vida
se sente repleto de eternidade, ansioso
por transmitir a outros sua fortuna?
Era um pombo assustado
perdido
e h� perguntas na Rua Noel Rosa
e em toda parte sem resposta.
Pelo qu� a senhora o confiou
ao senhor Manuel Duarte, que passava
para ser devolvido com urg�ncia
ao destino dos pombos militares
que n�o � um destino.
� CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Mostrando toda sua genialidade, o poeta faz de uma not�cia de jornal uma linda poesia, com versos inspirad�ssimos. Extra�do do livro "Carlos Drummond de Andrade - Obra Completa", Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 2002, p�g. 483.