Mudan�as

Hoje resolvi mudar minha vida,
colocar em ordem o que restou
ou melhor, o que de n�s sobrou,
na v� esperan�a de curar a ferida.

N�o suporto mais trope�ar em n�s,
uma bermuda velha aqui, soutien ali,
e lembrar a quem eles vestiam, ah tortura,
como testemunhas mortas de tudo o que perdi,
fetiches que me levavam � loucura,
e os ecos, reverberantes, dos momentos a s�s!

Quanto mais recolho, mais aparece,
outro par de chinelos, cruzes,
chego a murmurar uma prece, em v�o,
como se estivessem a se multiplicar,
fantasmas em torno de mim, a dan�ar,
n�o posso garantir estar louco, ou s�o,
"O �ltimo a sair, apague as luzes"
mas quem ficou fui eu, sou eu quem enlouquece!

At� as paredes parecem conspirar, suas cores,
ainda que desbotadas, s�o como as janelas,
silentes recorda��es de teu gosto,
"Amor, vamos dar uma m�o de tinta nelas?"
estou te ouvindo novamente, revendo teu rosto,
a tinta fresca a rescender, teus cabelos em coque,
um cheiro bom, na cozinha, daquelas panelas,
como conseguiste incorporar tantos amores?
Por que, logo em mim, foram restar tantas dores?

Arrasto uma pilha imensa de trecos, esquifes,
cada qual envolvendo uma pequena recorda��o,
meu reflexo, no espelho, espectro sem rumo,
longe vai meu �ltimo momento de calma,
nos cabelos, guardo ainda, teus derradeiros toques,
teu perfume a impregnar, persistente, minha alma.
quase acabado, quase acabando, logo daqui eu sumo,
mas ainda te levo, bem l� dentro, em meu cora��o!

Golden

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