Minha filha! O meu maior prazer � ter voc� comigo, conosco. Quinze anos se passaram, quando pela primeira vez eu consegui ver seu rosto e nele seus olhos, sua boca, seu nariz, suas m�os, seus p�s, enfim seu corpo. Voc�! Sinto como se fosse agora poder te tocar, te beijar, te acariciar, te sentir fora de mim em corpo, mas dentro de mim em alma. Consegui me sentir realmente mulher! Mais forte, mais decidida, mais dedicada. Uma verdadeira loba, guardi� de voc�.
O tempo foi passando, vi voc� sentar, caminhar, suas primeiras palavras, seu sorriso constante, etc. Acompanhei tamb�m seus choros, suas dores, as idas ao m�dico, � escola. Tivemos nossos passeios, � praia, ao parque, ao shopinng, ao centro da cidade, nas trilhas. No sentido de educ�-la, por vezes algumas palmadas, mas muito di�logo.
Quando sa�a para o trabalho, te deixava com t�o tenra idade com pessoas conhecidas e muitas vezes at� desconhecidas, mas nem por isso te esquecia. Lembro-me, que muitas vezes me flagrei na rua rezando e pedindo a Deus que a protegesse, por que mesmo na minha presen�a Ele � superior a mim. Ele te cuidou em momentos solit�rios e me guiou aos seus cuidados diante �s trag�dias inesperadas. Fez com que hoje voc� esteja aqui, compartilhando comigo e sua fam�lia o que existe de mais maravilhoso. A vida!
J� se passaram quinze anos! O mesmo orgulho do seu primeiro sorriso, dos seus primeiros passos, das suas primeiras palavras. Das idas ao m�dico, � escola, ao parque, � praia, �s trilhas e muito mais, eu continuo sentir de voc�. � claro, que de uma forma diferente! Diferente porque acompanho a caminhada de uma adolescente que sabe buscar o que quer. Por vezes enfrentando dificuldades, mas com consci�ncia do que � melhor para sua vida. A responsabilidade, a seriedade, a solidariedade, sem subterf�gios, sem drogas. Muito realista e confiante.
Como eu sinto orgulho de voc�! N�o tenho palavras para dizer-lhe de todo o amor por voc�. Gostaria que entendesse, que mesmo quando tive de tomar atitudes repressivas tamb�m foi por amor. Sempre pensei que a educa��o familiar � a ess�ncia do ser humano, assim como a fam�lia � a estrutura da sociedade. Seria eu, como m�e, eternamente frustrada pela minha omiss�o em educar-lhe. Tenho certeza que minha dor seria mais forte ao v�-la sofrer no meio social, porque, certamente, eu e sua fam�lia sofrer�amos com voc�. Por isso, minha filha, in�meras vezes ap�s cumprir com minhas obriga��es de m�e e educadora s� tive como sa�da me ausentar e chorar. N�o lhe escrevo isso para que tenha pena de mim. Escrevo-lhe para que entenda, caso tenha ocorrido em alguns momentos n�o me desejar como sua m�e. Que, na educa��o dos filhos n�o temos uma cartilha a seguir, e, em considera��o a inexist�ncia dessa cartilha � que sobrev�m as diferen�as.
Ser m�e, n�o � apenas �parir�! � dedicar-se, � compreender, � dar liberdade com limita��es, � aceitar opini�es, � compartilhar os momentos bons e dif�ceis da vida, � acolher. � jamais expurgar! � fazer sentir a exist�ncia de um lar, n�o apenas uma casa. � nunca desistir! � priva��o! Sim, priva��o! Mas uma priva��o consciente, solid�ria, um crescimento constante, um aprendizado de vida. Caso eu tivesse de recome�ar tudo de novo o faria da mesma forma e com maior prazer.
Tenho certeza que n�o tem id�ia do quanto me sinto feliz estar aprendendo com voc� �I love you� . Ser ensinada por voc� nas minhas d�vidas �When I don�t know�. Filha! Eu consegui ser mestre numa universidade, mas gostaria de ser doutora em educar voc�. Mas neste sentido, a escola n�o me proporciona sequer o ensino fundamental, e nem mesmo existe uma cartilha a seguir. Portanto, pe�o-lhe perd�o pelos meus erros e agrade�o a Deus pelos meus acertos. Ningu�m consegue dar o que n�o tem. Procurei dar o melhor do que tenho dentro das minhas limita��es. Penso ter cumprido minha miss�o at� aqui. Pe�o a Deus que me proporcione muitos anos de vida para que eu consiga realizar todas as minhas tarefas. Especialmente, a de ser �m�e�, sem jamais desistir, porque penso que esta � a mais importante miss�o da minha vida.

Balne�rio Cambori�, 15 de outubro de 2005.

Salete Jung