O que me seduz?
Seduz-me a inteligência absorvida da vida, aquela que nasce do que se aprende, dos que erram sim, mas não sempre no mesmo. Admiro aqueles que sabem que erram, mas evoluem um passo mais sempre. Tenho penaquando alguém erra sempre no mesmo ponto e nem se dá conta. Seduz-me o bom humor, o riso honesto. Seguir em frente sem esmorecer, rir da vida sem desesperar, continuar a brincar mesmo depois de ter esfolado o joelho. Seduz-me a verdade, acima de todas as coisas, a verdade, não aquela nua e crua (dura), mas a verdade simples. Seduz-me o interesse claro, não aquele no decote, mas o interesse que vai além do meu corpo, o interesse pela minha alma, do que sinto, do que me move. Seduz-me o dom e a delicadeza de me fazer sentir especial, única, querida, desejada. Seduz-me a persistência na minha presença. Não a presença para preencher vazios, mas aquela que faz de mim a única audiência necessária. Seduz-me o toque preciso, o toque que impressiona, alcança, aquele que está longe da vulgaridade do toque do macho procurando uma fêmea disponÃvel. O toque vulgar retrai-me, desagrada-me.
Seduz-me a conversa aberta, franca, sem que seja invasiva, curiosa ou indiscreta. A gentileza, o tato, o contato, o olhar. Eu não quero um olhar que me dispa, eu quero um olhar que me desvende. Seduz-me a firmeza sem brutalidade, a delicadeza sem frescura, a sensibilidade sem o drama. Seduz-me a sede de conhecimento sem preconceito. A individualidade sem egoÃsmo. A generosidade sem espera da troca. Seduz-me a liberdade sem promiscuidade, sem desconfiança, sem mau aproveitamento da confiança conquistada. Seduz-me o respeito pela minha pessoa, a minha vida, os meus sonhos, por aquilo que me deixa feliz.
Seduz-me a alegria, o olhar sob os milagres, a consciência de que somos abençoados todos os dias pelo dom da vida. Então eu percebo que não estou a querer nada de mais. Só alguém para dividir comigo uma cabine nesta viagem que é a vida...